terça-feira, 14 de julho de 2009

UM POTE DE GOIABADA POR 280 MILHÕES

Atualizado, em 14 de julho de 2009, às 08H56, por Orlando

Um pote de goiabada não custa mais que cinco reais em qualquer mercearia da esquina.
Quantos potes de doce o freguês levaria para casa com duzentos e oitenta milhões de reais?

Com a quantidade de doce comprado com essa dinheirama daria, com certeza, pra encher uma kombi dessas, que segundo o Ministro Gilmar Mendes, não encheria com os que lhe criticam .

É difícil entender o conceito de justiça para Gilmar Mendes. Se é que ele faz esse conceito.
Talvez quando ele sair às ruas descubra que a justiça que condena quem rouba um pote de doce é a mesma justiça que deve igualmente, condenar quem rouba milhões.

Ocorre que há diferencial aí. Roubar doces é coisa de pobre. Já quem rouba R$ 280 milhões é Deputado-Taturana de Alagoas e, obviamente, o seu colarinho é da cor branca. Faz parte de uma quadrilha e tem bons (e caros) advogados pagos com o dinheiro do contribuinte.

A Polícia Federal – que já foi mais respeitada, respeitável e republicana – está parece aquela criança que constrói castelo de areia na praia: ela mal acaba de fazer o castelo e vem a onda e desmancha. Aí, ela faz outro castelo e, sem nenhuma cerimônia, o mar desfaz tudo de novo.

A PF faz e Gilmar desfaz.
Ela prende e ele solta.
Às vezes até leva tempo entre um e outro ato.

Às vezes isso só leva 48 horas. Que o diga Daniel Dantas, que em dois dias foi preso e em dois dias Gilmar Mendes lhe concedeu dois HC.
Se DD fosse aquele sujeito lá da esquina, sem dúvida, Gilmar o deixaria na cadeia por um longo tempo.

O episódio final da história dos oito deputados alagoanos acusados de terem desviados (desviar é verbo chic usada para substitui a palavra roubar) 280 milhões da Assembleia Legislativa do Estado não teria nenhuma graça sem a intervenção de Gilmar Mendes. Soltar ladrão é a arte dele e o que ele faz de melhor. Mas só se o bandido for importante, se ele for banqueiro ou político.

Sendo um dos dois, é provável que quem os investiga passe a ser investigado e quem os acusa passe a ser acusado.
E chamado de destemeprado.
Para Gilmar Mendes, o que vale é o que a Veja diz a cada final de semana.

No Brasil tem sido assim, a Veja acusa (ela sempre tem acesso às provas, mas nunca as apresenta), a Globo reproduz, o PSDB (Arthur Virgílio) e o DEM (Heráclito Fortes) repercutem no Senado.
E o Gilmar concede entrevistas e mais entrevistas para a mídia ultra-conservadora tratando daquela notícia.

(Pela contagem do Paulo Henrique Amorim, o Presidente do Supremo ja concedeu a sua 556ª entrevista).
Ele concede, em média, de sete a quinze entrevistas por semana ou uma ou duas diariamente.

Desmoralizada, à Justiça brasileira só resta desvendar os olhos, levantar-se e tratar de por no prumo a sua balança, visto que, até hoje, ela só pende para o lado dos ricos, mesmo porque, convenhamos, 280 milhões pesa muito mais do que um simples pote de goiabada.

Um comentário:

  1. Excelente a tua crônica Orlando! Parabéns! Precisamos de críticos fortes como você. Bjs.

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